Pedaços de Mim
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                 A COZINHA DE MINHA IRMÃ

Acabei de ler um de conto de Fátima Batista no Recanto das letras. “Colcha de retalhos” era o título. Não pude deixar de rir da obsessão doentia da personagem em alinhar os retângulos da colcha e depois admirar o próprio trabalho. Eu mesma agi assim muitas vezes. Contudo hoje não me lembrei de nenhuma de minhas obsessões. Mas me veio a mente um caso ocorrido com minha irmã. Parecido a partir de certo ponto, porque não envolvia nenhum trabalho feito por ela. Mas um trabalho feito por um pedreiro e que lhe rendera alguns dias de sofrimento. O ocorrido diz respeito à reforma de sua cozinha. Uma coisa não tem nada a ver com a outra é bem verdade. Mas o que chamou a atenção foi a obsessão por determinado detalhe.

No caso da personagem do conto, os retângulos não se alinhavam. Já no caso de minha irmã foi uma leve inclinação no piso da cozinha perto da porta da varanda que a deixou abalada e que renderam um falatório que se estendera quase por um mês. Até que ela compreendeu que o piso jamais mudaria o alinhamento a não ser uma destruição total da cozinha. E isso estava fora de cogitação, uma vez que a bendita cozinha ganhava pela terceira vez uma reforma profunda. Não só a cozinha, mas toda a casa. E eles ganhavam uma dívida que pagaria em longos oito anos em suaves parcelas de mais de meio salário mínimo.

O pedreiro amigo, e além de tudo, pertencente à mesma família jamais poderia ser questionado, uma vez que ficaria magoado e não teria condições de arcar com prejuízo. Bem... assim pensavam eles: os parentes e o marido. Não era esse o pensamento de minha irmã, mas curvou-se à vontade de todos. E depois numa questão desse quilate quanto mais mexe, pior fica. Melhor seria esquecer. Ou fingir esquecer para não sofrer. Talvez se acostumar. Na vida não se acostuma com altos e baixos? Uma leve inclinação não faria o mundo desabar, embora naquele momento foi o que minha irmã pensara que aconteceria.

Entretanto o tempo passou e acostumaram.se com o rebaixamento forçado. Ninguém mais falou no assunto, mas sei que lá bem no fundo minha irmã ainda tem obsessão pelo problema de sua cozinha. Apenas fica em silêncio, talvez aguardando o momento oportuno e a condição financeira para uma nova reforma. E desta vez pra valer.
Sonia de Fátima Machado Silva
Enviado por Sonia de Fátima Machado Silva em 10/08/2006
Alterado em 12/12/2008
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