Pedaços de Mim
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Textos
    Além de Mim: Folhas ao vento
 

VENTO DE AGOSTO

     Enquanto o vento estava lá só sussurrando e, às vezes rugindo, no telhado da varanda da casa onde morei por quase seis anos, tudo bem.  Eu achava o máximo e muito poético. Até mesmo quando o vento era bem forte e ameaçava levar as telhas transparentes da varanda. Aquelas que parecem de plástico, mas se não me engano são de Policarbonato. 
Nada me deixava tão feliz que cheguei até a fazer alguns poemas baseados na minha ideia romântica do minuano. Ventos de Agosto foi um desses poemas incríveis. Porque vamos combinar: agosto é o mês do vento. E o vento é sem dúvida poético.
     Agosto não seria agosto se não tivesse vento e folhas correndo assustadas pelas ruas ou voando sem rumo pelo ar. O vento é magnificamente travesso. E poético. Claro.
     Mas quando me mudei finalmente para minha casa própria há pouco mais de dois meses, foi que eu descobri de verdade como o vento era travesso. Uma travessura que eu não tinha ainda sentido na pele. Confesso que tenho encontrado dificuldades para continuar sentindo o vento com aquele ar poético. E daí? Sou humana. Não sou totalmente poeta.
      Já houve um tempo que quando o vento chegava batendo as portas e janelas eu largava tudo que está fazendo e ia escrever um verso.  Às vezes até um poema inteiro. E só depois ia terminar meus afazeres domésticos.
    Quantas vezes, andando pela rua, eu fiz versos mentalmente para o vento. Porque nada me enchia mais a alma do que ver o vento despir as árvores da praça onde eu passava todos os dias. E depois arrastar as coitadas das folhas rua afora e jogá-las nos bueiros ou encantoá-las nos muros.  Era tudo que eu precisava para criar minhas rimas.
     Geralmente o vento chega ao final de julho e entra no mês de agosto no seu pique total. Por pouco não leva a gente com ele pelo ar.
     Aqui onde moro agora, o vento não ruge tanto porque não tem as tais telhas de policarbonato e confesso que ele é bem silencioso. Mas adora entrar pelas grades da frente trazendo todas as folhas que encontra pela rua alojando-as por todos os cantos. Não tenho sido páreo para o vento nesse inverno. Até porque nunca o enfrentei assim frente a frente senão em rimas e versos. Mal tiro as folhas secas ele vem trazendo mais. Chego a pensar que ele se implicou comigo, pois faz tempo que não lhe escrevo nenhum poema.  E pior, sabe o que faço? Tranco todas as janelas e portas e ele fica lá fora rodeando a casa e trazendo cada vez mais folhas secas.
     No fundo eu sei que ele só está cumprindo sua missão e não é assim tão travesso. Pois quem mais iria diminuir a sensação térmica em plena metade do inverno? O vento nada mais é que o ar em movimento. Você sabia que o vento nasce da variação de pressão atmosférica? Então. O vento surge quando o quente do solo sobe e o ar frio que vem de uma região distinta ocupa seu espaço. Esse deslocamento de ar quente e frio faz com que o vento surja.
      A Graças a Deus temos o vento. Temos mania de julgar e reclamar e ainda se esquecer de que o vento é um dos fenômenos mais belos e intrigantes da natureza.
Sabe de uma coisa? Eu quero esse vento que leva e trás tantas coisas. E por mim ele pode trazer quantas folhas quiser e deixar pelos cantos de meu quintal.  Elas são a poesia que não consegui escrever nesse inverno.  
 
 
 


Sonia de Fátima Machado Silva
Enviado por Sonia de Fátima Machado Silva em 10/08/2021
Alterado em 10/08/2021
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